sábado, agosto 15

Judith Teixeira - Poetisa Modernista



Judith Teixeira, nasceu em Viseu em 1980.
Perseguida e enxovalhada pela sua escrita e modo de estar na vida, falou do amor e do erotismo entre mulheres. A temática do homoerotismo ergue um ciclone de reacções na sociedade em vias de entrar em regime ditatorial. Escreveu alguns livros, como "Decadência", "Castelo de Sombras" e "Nua", tendo também publicado poemas soltos na revista Contemporânea. O livro "Decadência" saiu em Fevereiro de 1923. No mesmo ano, o Governo Civil de Lisboa apreendeu este livro, apelidado de "imoral", "literatura dissolvente" que "corroía a moral e os costumes". O seu livro foi queimado e a nossa escritora apelidada de "desenvergonhada". Também os livros de Sodoma Divinizada de Raúl Leal e das Canções de António Botto foram queimados. Ainda no mesmo ano, publicou "Castelo de Sombras" e editou novamente "Decadência". Em 1926 publicou o livro "Nua" e editou e dirigiu a revista Europa. Em Junho, já com o livro “Nua” à venda, sairia no jornal Revolução Nacional (jornal de propaganda da ditadura), um texto onde era referido o livro "Nua" como "uma das vergonhas sexuais e literárias". Publicou ainda "Satânia", enfrentando tudo e todos. Foi ridicularizada publicamente, apelidada de lésbica e caricaturada. Num ultimo gesto, publicou o "Poemeto das Sombras" na revista Terras de Portugal, não se tendo ouvido dela mais uma palavra. Morreu em 1959.
A literatura de Botto e Leal, ainda hoje são faladas, omitindo-se aquela que também viu um livro seu em labareda. Pisada pela moral vigente, em que as mulheres tinham que enquadrar-se em determinados padrões, em que sexo ainda era coisa de homens e onde a homossexualidade ainda era crime punido com medidas de segurança (o internamento em manicómio criminal, a interdição do exercício de profissão, etc), Judith Teixeira será sempre lembrada como uma mulher corajosa, uma poetisa sáfica modernista que enfrentou a sua época.


A MINHA AMANTE

Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…

Dizem
- e eu não protesto -
Que seja qual foro meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!

Não entendem dos meus amores
contigo
-Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…

E ninguém sabe que é de ti que eu
vivo…
Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!





Maria

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