sexta-feira, julho 10

Direito à minha Dignidade


Amanhã é dia da Marcha do Orgulho LGBT, no Porto. Orgulho por oposição a Vergonha. Visibilidade por oposição a Invisibilidade. Luta por oposição a indiferença. Coragem por oposição ao Medo.

O Medo, esse grande mal que diariamente tantas vezes nos silencia, nos afasta das luzes da ribalta. Tenho muitos medos. Um deles é de não chegar a ver o dia em que deixarei de recear expor a minha orientação sexual.

O Medo esmaga-nos devagarinho, tal como o silêncio. Sei, porque sinto na pele como uma queimadura o peso destes dois tiranos, o peso da falta de liberdade de expressão e por mais que se diga que estamos num país livre, a verdade é que não estamos. Sou mais cautelosa, reservada e apreensiva do que gostaria de ser e tantas vezes mais medrosa também. Imaginem um dia em que não possam fazer publicamente as coisas habituais que fazem com os vossos maridos ou esposas: almocem num restaurante romântico e inibam-se de lhes acariciar as mãos, disfarcem o olhar ternurento e finjam não ouvir os piropos que o empregado de mesa “atira” à vossa companheira ou então toquem-se e sintam-se observados, ouçam os risinhos nas vossas costas, as piadas e gestos ofensivos de certas pessoas; Vão passear pelo parque da cidade e inibam-se de andar de mãos dadas, de se beijarem, de se deitarem ao sol no regaço do vosso amor junto do lago, porque há olhares que ferem como punhais e há pais que se sentem muito incomodados por os filhos presenciarem o vosso amor; Ide jantar a casa dos vossos pais com um casal amigo deles e finjam que são apenas amigos a viver na mesma casa, pois é isso que os vossos pais esperam que o façam. Imaginam a sensação de anulação? Talvez aguentam um dia, mas uma vida inteira é muito tempo.

Recordo-me há uns anos atrás, ter ido a um casamento de uns primos da Cecília. Quando chegou a altura do baile, a Cecília convidou-me para dançar e eu recusei, por sentir-me inibida. Nunca esqueci a decepção que lhe vi nos olhos e, quando finalmente ganhei coragem, já ela não queria. Demorei a perdoar-me dessa falha e não tornei a cometer o mesmo erro noutro casamento que fomos. Dancei com a minha mulher e vivi momentos muito felizes. Quem não gostar não olhe, mude de sala.

É pois pela dignidade das nossas vidas, pelo usufruto dos mesmos direitos com que todos nascemos, que devemos lutar contra o medo, o silêncio e a repressão. Mesmo receando que me possam reconhecer (prejudicar-me profissionalmente?), receando o que possa ouvir, receando ver o que não quero, irei amanhã marchar e gritar pelo pelos meus direitos, pela minha dignidade. Os medos ultrapassam-se passo a passo.

Maria

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